sábado, 17 de dezembro de 2016

José, o meu adeus


O texto que se segue, com a data de 17 de Dezembro do ano passado, o dia em que se cumpriam cinco anos desde a partida do Zé, foi-nos enviado há três dias pelo seu irmão Francisco, juntamente com a convocatória para o nosso anual jantar de saudade.

Os retratos foram-me ontem enviados pelo José Paulo Saraiva Cabral. Feitos no dia 27 de Março de 2010, oito meses e meio antes da nossa tremenda perda.

Logo à noite estaremos todos juntos, e o Zé estará entre nós.


JOSÉ, O MEU ADEUS

Era um fim de tarde de domingo. Daqueles domingos que se passam a fazer coisas em casa e no fim do dia estamos mesmo cansados. Apetecia-me dar repouso ao corpo e ao espírito, mas tinha de ser num aconchego amigo, para poder sentir-me à vontade.

Jantei, e resolvi ir visitar o José.

Depois de ser recebido pelo seu timbre, decidido mas macio, e com o acolhedor "olá kad", já sabia que me esperava o sofá fofo onde costumava deixar o corpo enterrar-se. Depois disso, já sabia também, era muito mais difícil voltar de novo à posição "de pé". E ali fiquei.

Conversámos de coisas sem muito tino, banais. Quando a conversa começou a esmorecer já sabia também, pois fazia parte do ritual de acolhimento, viria o convite: não queres ver uns slides? Pois claro que queria!

Lembro-me da primeira "cassette". Um passeio a dois pelo Alentejo. Havia um barco a remos. Julgo que seriam slides antigos. Depois, outra "cassette". O José explicava tudo com pormenores que só ele podia lembrar. Comentários jocosos, mas ternurentos. Seguramente umas coisas escondia, outras dizia. A sua memória ia desfilando, pausada, como num monólogo.

De quando em vez eu fazia um esforço e perguntava qualquer coisa. Para não parecer desatenção pelo gosto que estava a ter ao abrir-me tudo aquilo.

Então, de repente lembro-me bem, olhei para o José e estava ele com um sorriso maroto, e cúmplice, a olhar para mim. Arrumando a "cassette" dos slides com gestos lentos, mas sem nada dizer. Percebi tudo, e fiquei sem saber que dizer. Ele, também tinha percebido tudo...

Relembro muitas vezes estes momentos, porque foram os últimos, e choro. Choro por não poder, quando sinto falta do seu carinho, voltar a poder pensar: vou fazer uma visita ao José...

Lisboa, 2015_12_17
Francisco

Sem comentários: